terça-feira, 14 de junho de 2011

Por Bruno Mazzeo:

Bruno Mazzeo em São Januário com o filho João Foto: Arquivo Pessoal
 
Na vida, como num jogo de tabuleiro, às vezes é preciso recuar uma casa para depois andar duas. Foi o que tentei pensar, usando o otimismo que me é peculiar, quando o Vasco caiu para a Série B. Um amigo mais exaltado lembrou a Alemanha, que precisou perder duas guerras para então se recuperar e virar o país que é hoje.Pois nós, vascaínos, já recuamos a tal casa e andamos bem mais que duas. O título da Copa do Brasil, o primeiro nacional desde a geração de Juninho Pernambucano, Romário, Euller e cia, foi a coroação. Ou o novo começo. Mais um. Esse é o Vasco. Que apanha, sobrevive e reage. Um Rocky Balboa do futebol. Desde sempre, a luta contra o racismo, a construção de São Januário, até a mais recente queda e tantas chacotas.

Aqui em casa a comemoração foi especial. Ou, pelo menos, diferente. Foi o primeiro título que meu filho comemorou. Ele tinha passado pela frustração da perda do Carioca e, você sabe, nessa idade as crianças são influenciadas. No colégio, no parquinho, quem não tem título dança. Cheguei a temer por uma prematura virada de casaca, coisa que pra mim, pobre pai, seria a morte. A dor de ver meu pequeno chorando quando os três penaltis foram perdidos no Engenhão bateu forte em mim. Assim como a lágrima de alegria após a batalha de Curitiba teve sabor, sei lá, de tutti frutti. O Vasco foi minha primeira paixão. Com ele já sofri, já vibrei, já perdi voz, já briguei com namorada, já chorei de raiva e de alegria, já tomei porre... Já vi títulos e já vi vices. Apogeu e decadência. Torci por Roberto, Romário e Edmundo, mas também por Clóvis e Valdir Papel.

Com o Vasco passei as maiores emoções da minha vida. E quarta passei por mais um teste. A idade vai chegando e a gente vai temendo problemas maiores. Cheguei a pensar “não tenho mais saúde pra isso”. Um olho na tela, outro no meu filho e o coração saindo pela boca. Vontade de entrar pela tela e ajudar Dedeckembauer e Anderson Martins a afastarem aqueles coxas brancas da nossa área. Como se eles precisassem. O orgulho de ser vascaíno nunca foi, nem de perto, abalado. O sentimento jamais parou. Mas agora ganhou sobrevida.

Orgulho dos nossos heróis capitaneados pelo doce Ricardo Gomes. Mais uma ironia do futebol: o maior zagueiro que eu vi jogar (depois de Mauro Galvão e Ricardo Rocha, claro), um dos responsáveis pelo maior tabu de quando comecei a torcer – os quatro anos sem vitoria sobre o Flu hoje é um dos responsáveis por mais essa retomada. Outro herói é antigo. Roberto Dinamite. O meu ídolo maior, um dos responsáveis por eu ter escolhido a paixãopelo Vasco. O maior artilheiro de todos, mostrou ser goleador também fora de campo. Começou um jogo perdendo de goleada, sofreu mais uns golzinhos, mas levantou, sacodiu a poeira e deu a volta por cima, comandando a nau para mais uma virada. O trem bala está de novo no trilho. Não é essa a nossa história? Não somos o time da virada? Então. O jogo segue.

Mas agora já lembramos quem somos. Como sempre dizem os próprios jogadores, “agora é dar continuidade”. A nós, torcedores, cabe continuar fazendo nossa parte. Então, uh pulaê! Deixa o caldeirão fervê!

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