segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Em Manaus, Torcida do Vasco é maior que a do Flamengo.

A falta de visibilidade nacional do futebol amazonense, em função da longa ausência de clubes locais nas Séries A e B do Brasileirão, não só afugenta os jovens torcedores dos estádios em Manaus como os distancia das agremiações e os aproxima das escolinhas de grandes clubes cariocas. Sem formação das categorias de base, os clubes amazonenses forçam a migração para filiais de Flamengo, Vasco e Botafogo.

Núcleos desses três clubes ensinam os fundamentos do futebol a 100 alunos, em média. A única exceção é o ‘Estrelas do Futuro’, do Botafogo, com uma turma de 40 alunos. É a mais jovem escolinha de Manaus. “Não temos jogadores suficientes de cada categoria para formar uma turma por divisão (do Sub-7 ao Sub-17), mas quando a escolinha do Botafogo funcionava no nosso antigo endereço, na Compensa (zona oeste da capital), tínhamos bem mais garotos matriculados”, disse o técnico Rômulo Gonçalves da Silva, 45.

Rômulo, que é também treinador e coordenador, revela que os principais motivos pela baixa presença de mais jogadores se devem à falta de publicidade do núcleo e à troca de endereço. “Faz três meses que nos mudamos para o Olímpico Clube (na Avenida Constantino Nery, zona centro-sul). Ninguém conhece nossa unidade ainda e os que treinavam conosco na Compensa não querem vir até aqui para seguir na escolinha”, lamentou. “A primeira avaliação com coordenadores do Botafogo para selecionar jogadores para testes no clube no Rio deve ocorrer até maio de 2012”, disse o técnico.

As ‘peneiras’ anuais com supervisores do clube no Rio, participação em competições nacionais e intermediação para testes nas agremiações são os maiores atrativos das escolinhas. “Um meia-esquerda, o Léo, fez testes no Flamengo e está lá desde 2007. Todo ano, selecionamos e levamos de 4 a 5 jovens para serem avaliados até por outro clubes cariocas, como Vasco e Botafogo”, disse Arlício Ribeiro dos Santos, 40, técnico da escolinha rubro-negra.

Com 160 alunos, a unidade do Flamengo funciona há oito anos na capital e também mudou de endereço. Agora, funciona no Clube do Trabalhador do Sesi, no São José I, zona leste de Manaus. “Aqui, temos dois campos com medidas oficiais e grama sintética. Nossa comissão vai além do técnico e preparador físico, porque contamos com os serviços de um técnico de enfermagem e médico”, disse Santos, que é mineiro e jogou no Nacional, Sul América e no Cliper. “Meu apelido era Esquerdinha”, lembrou.

A escolinha do Fla tem turmas do Sub-7 ao Sub-17. Em média, 95 alunos participam da seletiva para o Flamengo. Em 2012 haverá duas peneiras: uma em janeiro e outra em setembro.

Vasco tem mais adeptos que o Flamengo

Clubes de maior torcida em Manaus, Flamengo e Vasco quase empatam em número de alunos matriculados nas respectivas escolinhas. O Cruzmaltino leva vantagem com 150 crianças e adolescentes, entre meninos e meninas. O técnico e coordenador Josivaldo Rodrigues, 28, afirma que a quantidade de alunos é sazonal. “Geralmente, é só no período de recesso escolar, como em julho e dezembro, que há mais matrículas”, declarou.

A unidade do atual vice-campeão brasileiro funciona no Planeta Bola, no Alvorada, zona centro-oeste de Manaus. Segundo Rodrigues, o maior recorde da escolinha foi de 320 jovens matriculados em 2010. “Foi quando fizemos uma excursão à sede do Vasco no Rio de Janeiro. Muitas crianças que não estavam na escolinha se matricularam para ter a chance de viajar e conhecer São Januário (estádio do clube) e alguns jogadores do time profissional”, explicou o treinador.

A excursão faz parte do pacote de colônia de férias do clube, o Vasco Camp. “Faz dois anos seguidos que vamos à colônia de férias. Passamos uma semana lá, sendo que além de conhecer a estrutura do time, os alunos participam de clínicas de futebol e se forem bem em campo podem seguir no mínimo um mês no Vasco para testes”, comentou Rodrigues.

O goleiro Tasso de Luca, 13, é um dos raros casos da escolinha do Vasco em Manaus que conseguiu se destacar e atualmente joga pela equipe mirim do Gigante da Colina. “As escolinhas fazem um trabalho mais lúdico com fundamentos do futebol. Nossas prioridades são promover a saúde e lazer e, por último, a iniciação esportiva. Então, para um aluno de escolinha despertar o interesse de um clube famoso precisa ter antes de tudo talento para se sobressair”, analisou Rodrigues.

O baixo aproveitamento dos alunos da escolinha no Vasco tem uma explicação simples. “Consultei treinadores e supervisores do Vasco, todos foram unânimes em afirmar que o clube quer jogadores prontos. Eles não querem ter trabalho em ensinar tudo, querem só lapidar o potencial dos atletas”, revelou o treinador.

Para dar visibilidade e aumentar as oportunidades dos alunos mais jovens ingressarem no clube, a Escolinha Fla Manaus disputa há três anos a Copa das Nações Danone, exclusiva da categoria Sub-11 (mirim). Outra competição para dar ritmo de jogo é o torneio interno Copa Amadeu Teixeira, que está na 7ª edição e agrupa as equipes de Manaus e do interior do Amazonas.

Times sem prestígio em Manaus

Um consenso entre os alunos das escolinhas do Flamengo, Botafogo e Vasco, consultados pelo Portal D24AM, é o desinteresse em jogar por clubes profissionais do Amazonas. Sem visibilidade e um Estadual deficitário, o futebol local não atrai adolescentes como Ruan Fernandes dos Santos, 12. Atacante no Fogão, ele é santista e sonha com a primeira avaliação pelo clube carioca em Manaus. “Quero fazer um teste logo no Botafogo e começar uma carreira. Fui procurado uma vez por um empresário para ser avaliado pelo Cruzeiro e Atlético-MG, mas não vingou”, disse.

Flamenguista, o meia-atacante Quevenson Cruz Ferreira, 12, também treina há três meses na unidade do Alvinegro, o Estrelas do Futuro, na esperança de ficar tão famoso e rico quanto o ídolo dele, o craque santista Neymar. “Fiquei um tempo na escolinha do São Raimundo-AM, mas desisti. Prefiro aqui no Botafogo, porque as oportunidades que surgirem serão melhores”, declarou.

O lateral direito da Escolinha do Fla Manaus, Luiz Daniel, 11, já treina há um ano na franquia do clube carioca e participou da Copa Danone de 2010. “Pelo Fla, terei a chance de ser visto e me firmar”, afirmou Daniel. “Ele é uma das apostas para a ‘peneira’ de 2012”, lembrou o técnico Arlício Ribeiro.

Fã de Ronaldinho Gaúcho, o jovem Renan de Souza Ferreira, 12, atua na mesma posição do ídolo e sonha com carreira profissional. “Com 15 ou 16 anos, espero jogar por lá (no Flamengo)”, projetou.

De volta à unidade da escolinha do Vasco, em Manaus, o centroavante Denys Cliver, 15, ficou perto de concretizar o sonho de jogar por um clube de renome e prestígio. “Meu pai pagou minha hospedagem lá no Rio, em frente ao Estádio de São Januário. Fiz testes por um mês e só não fiquei porque os jogadores de lá têm um porte físico maior e são mais fortes. Vou regressar ao Vasco e não vou desistir de jogar por um clube grande, aqui no Amazonas não há futuro. Ninguém te ver atuar”, declarou Cliver.

O atacante Rodrigo Bentes Franco, 14, tem motivo especial para sonhar pelo Vasco. Ele deixou Itacoatiara (a 176 quilômetros da capital) para estudar em Manaus e entrar na escolinha. “O meu pai já faleceu e um sonho dele era me ver jogar pelo Vasco”, contou Franco, que é botafoguense de coração e aceitou ‘virar-casaca’ pelo pai.

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